Lavrando a terra

Pego a pá e revolvo a terra assentada em mim. Revolvo esta terra batida, socada, unida. Firmada por ensinamentos e esquecimentos.

Pego a pá e vou cavando, remexendo, trazendo à tona, arrancando raízes aos pedaços, mortas, desgrenhadas, soltando-lhes a terra grudada. Vou descobrindo tiras e tiras de minhocas antediluvianas, libertando gravetos imprestáveis, pedras, tocos inúteis e os tantos restos e ossos enterrados.

Pego a pá e vou abalando, lembrando, abrindo, sondando, perguntando, aprofundando, chegando.

Pego a pá e me finco, me reviro, me misturo, me desprendo, me mato, me cubro e me renovo num broto verde, rijo, parido de terra macia, de mãos sujas e unhas encardidas.